Vou começar a ler um livro do Freud sobre Humor:
Imagino que seja uma leitura difícil, então estou estudando um pouco antes de começar a ler o livro.
Assim sendo, cheguei no artigo “Humor e Psicanálise”. Link: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100014
Fui fazendo anotações aqui, e quase tudo que vou colocar aqui é control c control v do artigo, mas joguei aqui pra organizar meus pensamentos, pois o artigo é bem difícil de se ler!
Bóra lá!
Introdução
Freud, o criador da psicanálise, procurou estudar a lógica do inconsciente e mostrar que ela está presente não apenas nos sonhos e sintomas, mas também na vida cotidiana, nos atos falhos, chistes e, um pouco mais tarde, nas práticas religiosas e na arte.
Obs: Mais abaixo vou explicar o que é “chiste”. Em resumo para entender agora, chiste é a graça, ou a piada. Mais pra baixo detalho mais.
Vale dizer que os temas do riso e do cômico estavam na moda na segunda metade do século XIX. Vários autores escreveram sobre eles, antes e depois de Freud.
- No campo da filosofia, o livro O riso, de Henri Bergson, publicado originalmente em 1899, era conhecido por Freud e foi incorporado e criticado por ele no seu livro.
- Outra obra foi Komik und Humor, do filósofo Theodor Lipps.
Mas depois disso, na psicanálise não se deu muita bola para o humor…
Apesar da importância do livro Os chistes e sua relação com o inconsciente, e de ser um assunto sempre atual, este ensaio foi o menos consultado pela comunidade psicanalítica. E a produção escassa de artigos sobre este tema, pelos psicanalistas pós-freudianos, reforça esta constatação.
O que teve foi:
- Ferenczi e Winnicott ofereceram importantes contribuições sobre o humor e o brincar na clínica.
- Lacan, em 1957, resgata a importância dos chistes em seu seminário As formações do inconsciente.
O próprio Freud, após escrever o livro Os Chistes, só retomou o tema vinte e dois anos depois, no pequeno e importante ensaio “O Humor”, de 1927.
Inconsciente
Mas a originalidade do livro de Freud e sua contribuição maior foram inscrever o chiste como uma formação psíquica do inconsciente, destacando as dimensões do sentido e do desejo presentes na sua produção pelo sujeito e tê-lo inserido no corpo teórico da psicanálise, que estava, naquele momento, sendo constituído.
O que o discurso freudiano vai enfatizar na técnica do chiste e do seu efeito humorístico são os mesmos mecanismos da condensação e deslocamento, pelos quais o inconsciente se apresenta, como nos sonhos, atos falhos e sintomas.
Se o chiste está estruturado como uma formação do inconsciente, é por isso mesmo um trânsito para que alguma coisa da ordem do recalcado abra passagem e se mostre, sem pagar o preço neurótico da angústia ou do padecimento dos sintomas.
Ou seja:
O humor atua como álibi de alguma verdade do sujeito que, até então, não fora capaz de ser dita. Assim, diz Freud em seu livro:
“Numa brincadeira pode-se até dizer a verdade”
Freud era engraçadão
O criador da psicanálise utilizava os chistes e o humor em seus textos e em sua vida.
O humor consiste numa forma inteligente de lidar com a dor e o sofrimento e ainda tirar prazer disto.
Por exemplo, em 1938, na época de deixar a Áustria dominada então pelo nazismo, após a prisão e interrogatório de sua filha Anna, Freud foi obrigado a assinar um documento para a Gestapo dizendo que não havia sofrido maus-tratos.
Após assiná-lo, ele acrescentou de próprio punho: “Posso recomendar altamente a Gestapo a todos”.
Ele fez isso como uma tentativa de suicídio? Ou uma afronta? Esta ambiguidade, que aponta tanto para a vida como para a morte, revela a ambivalência e o paradoxo próprios do registro do tragicômico e do humor negro, nesta estranha proximidade da angústia e do riso.
O humor pode ser um último véu a cobrir e descobrir o horror.
É famoso o chiste de humor negro escrito por Freud, o do condenado à morte que numa segunda-feira pela manhã, ao ser levado para execução, comenta: “É, a semana está começando otimamente”
Em maio de 1933, ao saber que seus livros estavam incluídos nos que seriam queimados em praças públicas das cidades alemãs e nos campi universitários, fez o seguinte comentário: “Que progressos estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros”
O humor permite a inscrição da intensidade pulsional no universo das representações, ainda que em situações-limite. Permite que o sujeito afirme seu desejo contra a pulsão de morte que o habita.
Obs: Para entender mais sobre pulsão, pesquisei num site bem confiável: https://pt.wikipedia.org/wiki/Puls%C3%A3o_de_morte
Chiste, Humor, Cômico
Chiste: Dom de quem é espirituoso. Dom de contar acertadamente algo alegre e divertido, dom de replicar pronta e alegremente, graça de espírito, o espírito da coisa, inteligência, engenhosidade, esperteza. Um saber alegre. Consideraremos tanto as piadas quanto o humor apresentações privilegiadas do Chiste.
Humor: uma criação simbólica repentina, quando através da surpresa e do inesperado eclode um sentido novo. É articulado e depende totalmente da linguagem e do deslizamento de sentido da palavra. o humor marca o traço do particular, é preciso ser da paróquia para se entender uma piada ou um dito espirituoso.
Cômico: Já o cômico tende à universalidade (por exemplo, o Charles Chaplin do cinema mudo, o Gordo e o Magro).
E isso eu não entendi muito bem:
E, podemos hoje acrescentar, após as contribuições de Lacan: o chiste é da ordem do simbólico, o cômico, da ordem do imaginário e o humor, da ordem do real.
Humor
O humor “é um meio de obter prazer, apesar dos afetos dolorosos que interferem com ele; atua como um substitutivo para a liberação destes afetos, coloca-se no lugar deles […] O prazer do humor procede de uma economia na despesa do afeto, ao custo de uma liberação de afeto que não ocorre” A natureza do sentimento economizado a favor do humor pode ser compaixão, raiva, dor, ternura, etc., humor úmido, humor do sorriso entre lágrimas.
A essência do humor é poupar afetos.
O humor possui, segundo Freud, “qualquer coisa de grandeza e elevação”, que faltam ao chiste e ao cômico.
Essa frase não entendi muito bem: “O humor não é resignado, mas rebelde”. Preciso pesquisar o que significa resignado. Mas como sou rebelde não vou.
O que o humor transmite significa: “Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas de que sobre ele se faça uma pilhéria!“
“O humor é um dom precioso e raro!”, diz ele. São os humoristas aqueles que captam a fragilidade do homem, seus conflitos, sua finitude, sua dor e seu sofrimento, cravam as unhas no mal-estar, desviam do interdito e dali saem com um dito espirituoso que os faz rir de si mesmos, ou do outro, e faz o outro rir. São eles que revelam nossas contradições, nossas falhas, nossas imperfeições. Através do humor, todo poder constituído é gozado, as teorias perdem sua pomposidade, as religiões, as ideologias mostram sua face frágil e nua. O humor é transgressor!
Enquanto homens, estamos ameaçados constantemente pelo sofrimento psíquico provocado pela nossa condição humana — a morte, o envelhecimento, a doença, ameaças do mundo externo, a natureza com suas fúrias —, e pelos nossos companheiros de descrença, os outros homens.
Em face destas exigências, criamos defesas regressivas contra o sofrimento psíquico que são a neurose, o delírio, as drogas, o auto-abandono, o êxtase, as sublimações.
O humor, assim como a arte, é um destes caminhos onde o princípio do prazer triunfa sobre o princípio da realidade, dentro do campo da saúde psíquica, onde o desejo se realiza e se contrapõe à pulsão de morte, onde, na situação-limite de encontro com o real, a pulsão se inscreve no campo das representações, produzindo um efeito simbólico.
Se o chiste é um modelo para se pensar o inconsciente, o humor é uma forma sublimada de lidar com as dores do existir, sem perder a graça.
O riso
A piada só é piada se o terceiro é tocado por ela e a referenda com o riso.
O psicanalista Abrão Slavutzky sempre diz aos seus amigos contadores de piadas, que anunciem que vão contar uma estória e não uma piada, pois esta só será piada num segundo momento, se houver o desencadeamento do riso no outro.
Muitos de meus pacientes neuróticos, sob tratamento psicanalítico, demonstram regularmente o hábito de confirmar algum fato pelo riso quando consigo dar-lhes um quadro fiel de seu inconsciente, ocultado à percepção consciente; riem mesmo quando o conteúdo desvelado não justifica absolutamente o riso. Tal fato sujeita-se, naturalmente, a uma aproximação do material inconsciente, íntima bastante para captá-lo, depois que o médico o detecta e o apresenta a ele. (FREUD).
Pode-se rir, diz Freud, ainda que o saber produzido pela análise provoque dor.
O riso seria um signo de que algo fundamental produziu-se no analisando e abre para ele novos canais de acesso à experiência analítica. Algo da ordem do registro do trágico, quando é tocado no decorrer de uma análise, pode desencadear uma risada estridente e entreabrir caminhos para que alguma coisa da ordem do não previsível, do não-familiar, surja, possibilitando o encontro com o horror presente nos meandros do psiquismo.
Uma porta se abre através do riso, o princípio do prazer abriria, paradoxalmente, as comportas para o além do princípio do prazer, contornando as interdições e abrindo novas possibilidades de simbolização.
O dito humorístico só é humorístico e desperta o riso se preencher determinadas condições: a surpresa, a ambiguidade, o afeto doloroso suprimido.
Trágico
Se na neurose o sujeito se mantém preso numa relação dramática com seu sofrimento e na sua maneira de estar no mundo, a experiência analítica oferece uma possibilidade de esvaziamento deste gozo masoquista, através de uma desdramatização narrativa desta seriedade exagerada e fatalista que os pacientes atribuem aos seus males, de modo a se defrontarem de uma outra forma com o imprevisível brotado dos labirintos de seu psiquismo, não se levando tão a sério e podendo confrontar-se com as suas falhas com uma maior leveza, a ponto de conseguirem rir de si mesmos, algum dia.
Em A Psicoterapia da Histeria, Freud faz uma referência à desdramatização do infortúnio (termo usado por Joel Birman) na experiência analítica, ao dizer que o tratamento analítico deveria transformar a miséria histérica em infelicidade banal.
No trágico existe sempre o humor como possibilidade, ao contrário do drama, em que habita o ressentimento a ser transformado em masoquismo e melancolia.
Mas, se a psicanálise traz o convívio e a proximidade com o trágico, carrega também implícita a desdramatização da existência, já que a neurose é a encarnação do drama e possibilita a construção, pelo sujeito, de instrumentos para se lidar com esta tragicidade inerente, da qual não se pode escapar, permitindo-lhe desgarrar-se do drama da neurose, num movimento para o trágico da existência.
Ou seja, o sujeito mudaria o ritmo da dança da vida, de um repetitivo tango argentino ou dos dolorosos lamentos de um fado português para uma bossa-nova.
Este é um dos objetivos da análise. E nesta dimensão trágica da existência, o chiste, o humor e o riso aparecem como formas efetivas de se lidar com o mal-estar.
Finalizando…
O humor é ético porque é afirmação do desejo ante a pulsão de morte; é estético, pois criativo contorna os interditos e causa prazer da ordem da sublimação; e político, pois que é uma forma de desconstrução, pelas beiradas, do poder instituído, para que o sujeito reafirme o seu desejo e restaure o seu direito de existir numa comunidade social. Sem perder a graça!
Fim 🙂