Quem foi Marceline?
Uma vez perguntaram a Buster Keaton quem era o melhor palhaço que ele já tinha visto. E a resposta foi Marceline.
Ele também inspirou muito o trabalho de Charles Chaplin.
Nascido na Espanha em 1873, Marceline trabalhou como palhaço desde criança.
Era palhaço Augusto, não usava roupas extravagantes e maquiagem mais leve.
I am funny without the clown costume, which is an art. I have never worn anything except a dress suit. I have never had the chalky face, the cap, the baggy pantaloons with ruffles which make the circus clown. I am a comedian.
Além de um grande comediante, ele também era um exímio acrobata. Seu físico era excepcional e fazia todo tipo de acrobacia em seus números.
A fama
No ano de 1900, ele foi para Londres e ficou 5 anos se apresentando por lá, onde Chaplin (adolescente) o conheceu e se apresentaram juntos.
Em 1905, Marceline foi para Nova York e se tornou o comediante mais famoso da época. Por 10 anos, ele fazia dois shows diários para mais de 5 mil pessoas cada!
Marceline chegou a produzir quadrinhos para um jornal. Nesse, ele vai tentar ajudar os bombeiros, mas piora tudo:
Até que…
Até que um dia surgiu o cinema e sua carreira foi entrando em declínio.
As pessoas pararam um pouco de ir ao circo e ao teatro para ir ao cinema. E já com a idade um pouco mais avançada, ali por 1915, ele já não fazia mais os mesmo números que dependiam do seu corpo.
Marceline até tentou fazer uns filmes, mas nenhum fez sucesso. E todos esses filmes (assim como boa parte dos filmes dessa época) foram perdidos.
Primeiro, ele fez um filme que não tinha uma história em si, era praticamente apenas um número gravado e provavelmente tinha menos de um minuto.
Depois ele fez um curta, que vou falar a seguir:
A não adaptação
Marceline gravou um curta chamado “Mishaps of Marceline” que se sabe um pouco da história por notícias de jornais da época e também foram recuperados alguns frames:
O que me intrigou foi o registro de uma conversa onde questionaram por que ele estava usando maquiagem no filme, sendo que nessa época os palhaços como Chaplin não usavam maquiagem de palhaço tão forte.
E ele ignorou isso, quis usar a maquiagem que o fez famoso.
Mas o que as pessoas gostam ou dão risada muda com o tempo, e Marceline não quis se adaptar.
Pra piorar…
Marceline foi ficando mal com tudo isso e parou de atuar.
Ele abriu um restaurante. E o restaurante faliu.
Abriu outro. E faliu também.
Assim, mesmo tendo juntado muita grana no passado, perdeu tudo.
Ele voltou a atuar, mas dessa vez nem era o palhaço principal, era só um palhaço coadjuvante. Chaplin foi em uma dessas apresentações e ficou mal a ver o declínio de seu ídolo.
No filme Luzes da Ribalta, onde Chaplin interpreta um palhaço no fim da carreira, ele usa roupas e chapéu que lembram o figurino de Marceline.
E por fim…
Sem dinheiro, esquecido pelo público, fracassado no cinema, Marceline pegou várias fotos suas revivendo os momentos de glória. E, com as fotos do sucesso espalhadas na cama, ele pegou uma arma e se matou.
Por quê?
Sério. Por quê?
Adoraria saber isso.
Não sei a resposta, mas tenho alguns pensamentos pra compartilhar:
Se adaptar é importante. Jô Soares pra mim é um exemplo de comediante que soube se adaptar. Quando ficou mais velho parou com as esquetes e os personagens e criou um talk show, além de se manter no teatro, e continou ativo e em alta até hoje.
Woody Allen falou recentemente em uma entrevista que a Nostalgia é uma armadilha, pode ser gostosa, mas talvez te prende e não te faz criar coisas novas. Woody Allen não tem quadros de seus filmes em sua casa e não fica os reassistindo.
Adoro o documentário “Viver do riso” da Ingrid Guimarães, onde ela entrevista muitos comediantes e dialoga um pouco sobre esse tema. Recomendo assistir. Está na Globo Play.
Escrevi um artigo sobre humor e psicanálise, caso você tenha interesse: http://adrianoo.com/humor-e-psicanalise/
Esses dias vi uma entrevista do Daniel Zukerman, que falava que carreiras tem altos e baixos e sempre temos que entender isso. Nem tudo é pra sempre, temos q constantemente estar mudando e fazendo coisas novas.
E principalmente, não podemos nos levar a sério. Nem mesmo quando você estiver na merda.
E o mais importante… Nunca abra um restaurante!
Fim 🙂
Muito bom o texto. “Conheci” o Marceline numa biografia do Chaplin que estou lendo.